quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Desejos sem óculos de grau

Hoje pela manhã, ensaiei palavras de felicidade.
Rascunhei cartas sem endereços, empilhei fotos tiradas através dos meus olhos.
Caminhei pelos trilhos, pés no chão, dedos ao ar desenhando formas sem sentido.
Eu ensaiei palavras de otimismo.
É tão fácil com um pouco de imaginação!
Afastei um pouco a terra do banco velho. Me deitei de forma em que pudesse ver o céu de maneira clara.
Comecei com lembranças das horas que passei diante do espelho, encontrando ângulos perfeitos, esperando que alguém os encontrasse também. Pensei em todos os minutos que desperdicei pintando meus olhos para disfarçar uma fragilidade qualquer, esperando que alguém pudesse enxerga-la.
Eu gostaria de saber, quantos dias esperei que me vissem através de um raio de sol, e não camuflada em meio a uma tempestade.
Decidi abrir algumas gavetas, aqui dentro de mim. Delas saíram as imagens do sol queimando a madeira oca, da chuva molhando as sacadas, do arco-íris pintando o céu. Sempre guardei os melhores momentos do dia para projetar uma cena perfeita, espontânea, eterna.
Eu ensaiava momentos de alegria, aqueles que eu sempre possuí em meus sonhos.
Como eu desejei que alguém pudesse ver.
Estes momentos iriam substituir as definições esboçadas em alguma tela. Ou, quem sabe, algum pedaço de papel carimbado com as minhas palavras previsíveis.
Como eu desejei que alguém não as pudesse enxergar.
Palavras ensaiadas podem ser artificiais, ou até mesmo, perfeitas demais, porém, carregam sentimentos despreparados para o primeiro encontro, algo muito maior que não pode ser levado pelo vento.
As cartas podem não olhar nos olhos, podem não entrelaçar as mãos. Mas as cartas, arranham o mais profundo dos despreparados, acariciam os que não podem dizer de outra forma.
Minhas cartas não pedem socorro;
Minhas palavras não dizem quem eu sou;
Minhas palavras não me escondem da realidade...
Minhas palavras ensaiam momentos de felicidade.
Hoje pela manhã, ensaiei palavras de felicidade, acabei perdendo a hora.
Como eu desejei que alguém pudesse ver.

2 comentários:

  1. detesto ser repetitiva, mas tenho que dizer, novamente, que você me inspira!

    você consegue traduzir em palavras bonitas o que você sente e, sem querer, o que eu sinto também.

    só tenho a lhe agradecer.

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